Monday, January 4, 2016

Cissiparidade.

Tem dia que a gente brilha à força.

E vai.

Friday, December 4, 2015

Aqui.

Eu perco a hora.
Morro um pouco.
Falho. Tardo. E amo em círculos.
Ébrios. Fortes. Curtos e longos.

Sozinho. Amor.
Por que te demoras?
Por que te escondes de mim?

Não apago mais as fotos.
Não apago as mensagens.
Não apago o cheiro e o toque.

Estão aqui. Guardo comigo.
E são nossos, até que o tempo leve embora, devagar.

Devagar.

Devagar.

Agradeço pelo ter sido.
Agradeço pelo compartilhado.
Agradeço pelas cores e pela vida.
Obrigado.

Wednesday, July 15, 2015

O Alto Preço de Viver Longe de Casa


"Voar: a eterna inveja e frustração que o homem carrega no peito a cada vez que vê um pássaro no céu. Aprendemos a fazer um milhão de coisas, mas voar… Voar a vida não deixou. Talvez por saber que nós, humanos, aprendemos a pertencer demais aos lugares e às pessoas. E que, neste caso, poder voar nos causaria crises difíceis de suportar, entre a tentação de ir e a necessidade de ficar.
Muito bem. Aí o homem foi lá e criou a roda. A Kombi. O patinete. A Harley. O Boeing 737. E a gente descobriu que, mesmo sem asas, poderia voar. Mas a grande complicação foi quando a gente percebeu que poderia ir sem data para voltar.
E assim começaram a surgir os corajosos que deixaram suas cidades de fome e miséria para tentar alimentar a família nas capitais, cheias de oportunidades e monstros. Os corajosos que deixaram o aconchego do lar para estudar e sonhar com o futuro incrível e hipotético que os espera. Os corajosos que deixaram cidades amadas para viver oportunidades que não aparecem duas vezes. Os corajosos que deixaram, enfim, a vida que tinham nas mãos, para voar para vidas que decidiram encarar de peito aberto.
A vida de quem inventa de voar é paradoxal, todo dia. É o peito eternamente divido. É chorar porque queria estar lá, sem deixar de querer estar aqui. É ver o céu e o inferno na partida, o pesadelo e o sonho na permanência. É se orgulhar da escolha que te ofereceu mil tesouros e se odiar pela mesma escolha que te subtraiu outras mil pedras preciosas.
E começamos a viver um roteiro clássico: deitar na cama, pensar no antigo-eterno lar, nos quilômetros de distância, pensar nas pessoas amadas, no que eles estão fazendo sem você, nos risos que você não riu, nos perrengues que você não estava lá para ajudar. É tentar, sem sucesso, conter um chorinho de canto e suspirar sabendo que é o único responsável pela própria escolha. No dia seguinte, ao acordar, já está tudo bem, a vida escolhida volta a fazer sentido. Mas você sabe que outras noites dessa virão.
Mas será que a gente aprende? A ficar doente sem colo, a sentir o cheiro da comida com os olhos, a transformar apartamentos vazios na nossa casa, transformar colegas em amigos, dores em resistência, saudades cortantes em faltas corriqueiras?
Será que a gente aprende? A ser filho de longe, a amar via Skype, a ver crianças crescerem por vídeos, a fingir que a mesa do bar pode ser substituída pelo grupo do whatsapp, a ser amigo através de caracteres e não de abraços, a rir alto com HAHAHAHA, a engolir o choro e tocar em frente?
Será que a vida será sempre esta sina, em qualquer dos lados em que a gente esteja? Será que estaremos aqui nos perguntando se deveríamos estar lá e vice versa? Será teste, será opção, será coragem ou será carma?
Será que um dia saberemos, afinal, se estamos no lugar certo? Será que há, enfim, algum lugar certo para viver essa vida que é um turbilhão de incertezas que a gente insiste em fingir que acredita controlar?
Eu sei que não é fácil. E que admiro quem encarou e encara tudo isso, todo dia.
Quem deixou Vitória da Conquista, São José do Rio Preto, Floripa, Juiz de Fora, Recife, Sorocaba, Cuiabá ou Paris para construir uma vida em São Paulo. Quem deixou São Paulo pra ir para o Rio, para Brasília, Dublin, Nova York, Aix-en-provence, Brisbane, Lisboa. Quem deixou a Bolívia, a Colômbia ou o Haiti para tentar viver no Brasil. Quem trocou Portugal pela Itália, a Itália pela França, a França pelos Emirados. Quem deixou o Senegal ou o Marrocos para tentar ser feliz na França. Quem deixou Angola, Moçambique ou Cabo Verde para viver em Portugal. Para quem tenta, para quem peita, para quem vai.
O preço é alto. A gente se questiona, a gente se culpa, a gente se angustia. Mas o destino, a vida e o peito às vezes pedem que a gente embarque. Alguns não vão. Mas nós, que fomos, viemos e iremos, não estamos livres do medo e de tantas fraquezas. Mas estamos para sempre livres do medo de nunca termos tentado. Keep walking."

Ruth Manus.


Wednesday, July 1, 2015

Dez

Invenção hindu-arábica, o sistema numérico decimal organiza o mundo. Talvez, não por mera coincidência, os bebês comecem a ensaiar os primeiros passos da caminhada a partir do décimo mês de vida. Dez é o nosso denominador universal - seja na nota do colégio, seja na camisa do jogo de futebol.


E cá escrevo o décimo mês, com todos os dias e os minutos, com quilômetros, países e cidades percorridas. Nas duas, quatro, oito rodas, várias asas e muitas janelas, a certeza da construção do para sempre todo dia, a cada instante. Instantes constantes de amor, que eu quero multiplicar, expandir e consolidar.

Feliz décimo mês. E que venham muitos outros múltiplos de tempo para contarmos juntos.




Friday, October 1, 2010

I'd Rather Be

O tempo tem mesmo muito mais pressa do que imaginei a princípio e, sem que eu notasse, apontou o início de outubro, ou o fim do ano corrente - no caso em análise, aliás, literalmente. Neste intervalo, fiz um estágio enriquecedor na capital Pernambucana e cheguei à conclusão do meu curso de Direito; agora, minha vida é pautada pelos muitos exames e seleções, sempre tão sortidos e, de uma maneira muito particular, também didáticos.

Em uma dessas provas sobre conhecimento da língua inglesa, surge um questão que traz um pequeno e contundente pensamento, que chamou minha atenção de maneira especial: falava sobre a beleza da persistência, escrito por Milton Berlinger, comediante e apresentador americano:

"I'd rather be a could-be if I cannot be an are;
because a could-be is a maybe who is reaching for a star.
I'd rather be a has-been than a might-have-been, by far;
for a might have-been has never been,
But a has was once an are."
(Milton Berle)


Acredito que eu tenho bastante do espírito proativo relatado por Berle em mim, mas não custa deixar registrado: neste momento e em diante, prefiro ser "an are" - e, caso nada dê certo, sentir orgulho de ter feito meu melhor, reaching and finding, in the mirror, my own star.

Friday, June 19, 2009

Unidade

É bem verdade que eu deveria estar estudando. Mas, fiz uma daquelas pausas eternas ao concluir o capítulo do volume de Direito Constitucional que venho revisando, para dar uma olhada nos meus canais de relacionamento com o mundo exterior.

Explorando os últimos visitantes do meu perfil (e os amigos em comum destes visitantes), eis que esbarro num camarada, pernambucano, que sempre me foi fonte de sentimentos controversos. Dúvida, adimiração, pena, raiva, e também um certo carinho. Não ao mesmo tempo, claro.. e em doses homepáticas - afinal, seria pouco provável manter a sanidade se tudo viesse intensa e simultaneamente dentro das minhas sinápses. O mais fantástico é que nada disso, hoje, parece relevante. É a minha indiferença que, de tão hermética, não consigo explicar.

Frente àquela foto tão muda do rapaz niilista, vejo escrito assim:

"Comigo caminham todos os mortos que amei,
todos os amigos que se afastaram,
todos os dias felizes que se apagaram.
Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia
ser meu para sempre."
(Miguel Sousa Tavares)

Por fim, com a sensação de que assistia a um grande artista terminar a peça no ato triunfante, senti paz. Senti unidade. E entendi que concordava com tudo que ali havia desde sempre, apesar não ter tido, até então, a proficiência necessária para ler aquele quadro dada-realista.

Wednesday, June 17, 2009

Pares Não São Ímpares

"Enquanto não superarmos
a ânsia do amor sem limites,
não podemos crescer
emocionalmente.

Enquanto não atravessarmos
a dor de nossa própria solidão,
continuaremos
a nos buscar em outras metades.
Para viver a dois, antes, é
necessário ser um."

Fernando Pessoa